21.6.06

 
"Rankings"

Paulo Guimaraes, Miguel Portela e Pedro Cosme fizeram um trabalho importantissimo (e, tanto quanto sei, inedito em Portugal e em muitos outros paises) de compilacao e seriacao da investigacao em economia: http://www2.eeg.uminho.pt/economia/nipe/cempre+nipe-rank/index.asp

Todos os investigadores de universidades portuguesas e todos os investigadores portugueses no estrangeiro com pelo menos uma publicacao cientifica sao considerados. Na ultima contagem que fiz, somos so 356 pessoas... Subtraia-se os "estrangeiros" (cerca de um quarto), compare-se com o numero de academicos na area da economia em Portugal e torna-se simples compreender o estado da universidade portuguesa e a sua falta de projeccao internacional.

 
Fase pre-blog...

Alguns artigos que escrevi e que apareceram na imprensa portuguesa (Publico, Diario de Noticias, Diario Economico, Jornal de Negocios, etc):
-"Pôr a Educação a Aprender" (Agosto 2004)
-"Educação - Propostas Concretas" (Agosto 2005)
-"Incentivar os Politicos" (Outubro 2005)
-"A Rainha Vai Nua?!" (Janeiro 2006)
-"Flexigurança" (Marco 2006)
-"A Rotatividade dos Trabalhadores" (Maio 2006)

 
Felicidade ou dinheiro?

Varios estudos indicam que, enquanto os niveis de rendimento nos paises desenvolvidos nao param de aumentar, os niveis de "felicidade" (ou, pelo menos, aqueles indicados em inqueritos) tem estado estagnados. Uma explicacao possivel para este resultado estara na importancia do posicionamento de cada um na distribuicao de rendimento - mais importante que o proprio nivel absoluto de rendimento, sobretudo a partir do momento em que as necessidades basicas estao satisfeitas. Se todas as pessoas tem um carro, so ter um carro topo-de-gama e' que pode conferir "felicidade"...

Andrew Oswald, da Universidade de Warwick, tem-se destacado a estudar este e outros assuntos. Os papers dele estao em http://www.andrewoswald.com/

14.6.06

 
Temas para proximos posts

Para minha propria organizacao (e memoria), menciono em seguida alguns temas que tentarei abordar nas proximas semanas, de acordo com a disponibilidade e a inspiracao:

-uma avaliacao do Ministerio da Educacao Maria de Lurdes Rodrigues (Marco 2005 - ...)
-a legislacao laboral em Portugal: a economia politica das restricoes 'a cessacao dos contratos permanentes
-o paradoxo de elevadas rendibilidades da educacao e baixos niveis de escolaridade
-Recursos humanos e Portugal como perdedor da globalizacao
-prolegomenos de um programa politico para a educacao
-uma decepcao chamada universidade portuguesa
-a inexistencia de "think tanks" em Portugal
-quem faz investigacao em economia da educacao e/ou do trabalho sobre Portugal
-Gary Becker: o precursor do "imperialismo economico"
-uma analise do Livro Verde sobre as Relacoes Laborais (2006)
-a economia dos recursos humanos ("Personnel Economics"): uma area (quase) ignorada em Portugal

"So much to do and so little time..."

 
Comparacoes Portugal / Reino Unido

Talvez seja demasiado exigente procurar por no mesmo plano as praticas governamentais de paises tao diferentes com Portugal e o Reino Unido. Mas, se alguma ideia ainda se retem da moribunda Agenda de Lisboa, e' a importancia do "benchmarking" para a melhoria das politicas publicas. E, efectivamente, talvez se consiga aprender algo em Portugal com um pais com uma democracia varios seculos mais antiga como a do nosso velho aliado.

Como talvez nao seja muito util comparar o conteudo das politicas propriamente ditas, dadas as varias diferencas entre os dois paises, olhe-se sim para o processo de definicao dessas mesmas politicas. Ha varios aspectos a mencionar: eu refiro apenas alguns que poderiam ter maior valor acrescentado em Portugal.

1- Pensar
Parece simples - mas flagrantemente nao acontece com frequencia. E' preciso identificar precisamente o problema que se quer corrigir; avaliar os metodos disponiveis; obter evidencia empirica de qualidade; comparar as diferentes possibilidades, usando analises custo-beneficio e outras; trocar impressoes com algumas das pessoas envolvidas; antecipar possiveis problemas; considerar correccoes.

2- Escrever
Tambem nao e' muito complicado - mas mais uma vez pouco se vez. Quantos textos (documentos de trabalho; livros verdes, brancos) que descrevem o contexto e a motivacao para decisoes publicas sao preparados antes dessas proprias decisoes publicas? E dos poucos que existem, quantos estao disponiveis na internet para que qualquer cidadao possa aceder, ler e ter a sua propria opiniao? E quantos foram preparados por outras pessoas que nao os amigos dos ministros, i.e. quantos desses textos tem conclusoes que nao tenham sido encomendadas na mesma altura da encomenda dos proprios textos?

3- Debater em publico
Fundamental - mas mais uma vez pouco existe, pelo menos que tenha alguma profundidade. Para tal e' necessario que os media tenham capacidade de perceber o que dizem - para alem de fazer "copy/paste" das noticias das agencias noticiosas e das centrais de comunicacao, alem dos fretes aos amigos e aos influentes.


O senhor da fotografia, de seu nome Jeremy Paxman, e' um jornalista da BBC no seu programa Newsnight, e representa a acutilancia e a anti-deferencia que, quando presentes nos media, prolongam a saude de qualquer democracia em varios anos. Por alguma razao que nao e' imediatamente clara, os media em Portugal nao podem assumir o cinismo e o egoismo que esta presente na esmagadora maioria dos actos publicos. Enquanto os media nao mudarem, enquanto continuar a nao existir jornalismo de investigacao em Portugal, pouco ou nenhum escrutinio das decisoes publicas se podera esperar - para alem da espuma dos dias das noticias de 30 segundos e o cheiro desagradavel de corrupcao e desperdicio que nao sai do ar.


Num proximo post continuo, com o 4- Repensar, 5- Divulgar, e 6- Implementar...

13.6.06

 
"Por o sistema educativo a aprender"

Tomar decisoes sem considerar informacao credivel sobre o tema da decisao e', obviamente, um erro basico. No entanto, parece ser precisamente esta a postura das sucessivas equipas ministeriais que se encarregam da pasta da educacao. As reformas sucedem-se, com maior ou menor vigor, mas pouco ou nada existe em termos de uma avaliacao credivel das reformas anteriores ou em termos de uma analise prospectiva do impacto das reformas em curso.

Varias perguntas basicas - o que se pretende que mude com a reforma? quais sao os mecanismos introduzidos pela reforma que irao levar aos resultados pretendidos? como se avaliam os custos e os beneficios da reforma? - nao sao respondidas, nem numa optica ex-ante (quais os resultados do que se fez no passado?), muito menos em termos ex-post (o que se espera, em termos concretos, que aconteca no futuro como consequencia das reformas actuais?).

Neste contexto, e' obviamente muito dificil avaliar o que quer que seja, desde o trabalho das equipas ministeriais ate 'a propria "performance" do sistema educativo nacional. E, no entanto, como se sabe, o que esta em causa tem uma importancia gigantesca. Nao so o montante dos recursos absorvidos pelo sistema e' tudo menos dispiciendo - cerca de 6% do PIB, ou 12% do orcamento de Estado -, como a qualidade dos recursos humanos portugueses tem a importancia que todos reconhecem para a prosperidade do pais.

No que eu chamaria a abordagem da economia da educacao, um ponto de partida fundamental - e, quase que diria, fundamentalmente ignorado em Portugal - consiste em conhecer sistematicamente, e de maneira minimamente comparavel entre escolas, os resultados de todos os alunos. Parece-me, assim, obvio que deveriam existir exames nacionais em todos os anos de escolaridade. Para alem disso, e' tambem necessario que os alunos tenham incentivos em preparar-se devidamente para estas provas e mostrar o que realmente sabem - ao contrario do que acontece actualmente com as provas de afericao -, o que so sera possivel se o resultado da prova de afericao contar para a nota final do aluno e, assim, para a propria transicao ou nao do aluno para o nivel de escolaridade seguinte.

Note-se que defender a analise dos resultados dos exames dos alunos nao e' necessariamente defender a ideia de rankings. O grande problema dos rankings, nomeadamente em termos da sua discussao publica, esta na sua interpretacao como medida de valor acrescentado da escola em relacao aos alunos. Essa interpretacao so estaria correcta se a distribuicao dos alunos pelas escolas fosse aleatoria - o que, obviamente, nao e' o caso. Os alunos seleccionam-se e sao seleccionados para diferentes escolas, o que implica que a medida potencial de valor acrescentado proporcionada pelos rankings pode ser fortemente "contaminada" pelo impacto das regras de seleccao (e o contexto socio-economico subjacente). Usando outras palavras, um aluno seleccionado aleatoriamente de qualquer ponto do pais e colocado, no principio do ano lectivo, na escola com o melhor resultado nao teria necessariamente, no fim desse ano lectivo, um resultado comparavel ao resultado da escola no ranking.

Por outro lado, as medidas dos resultados dos alunos por escolas nao deixam de proporcionar informacao de grande relevancia sobre a "performance" dos alunos - desde ja, uma descricao objectiva, comparavel, da aprendizagem dos alunos. Por exemplo, uma elevada percentagem de resultados negativos num dado exame nacional e' informacao importante de se ter em conta, independentemente do contexto socio-economico dos alunos e da sua escola. E' a partir de informacao desse tipo, e das comparacoes que passam a ser possiveis, que se pode comecar a analisar o que explica o sucesso e o insucesso e o que se pode alterar ("reformar") para corrigir as situacoes negativas e emular a positivas.

10.6.06

 
Para que este blog?

Porque a discussao em Portugal sobre os temas da educacao e do trabalho precisa de ser aberta a uma abordagem mais cientifica e sistematica - e menos ideologica e casuistica - como aquela que resulta da ciencia economica.

Embora em grande medida ignorado em Portugal - ate em algumas universidades - desde ha varias decadas que se trabalha muito no estrangeiro na analise economica de varias areas que se podera chamar da "economia das pessoas". Ha mesmo varias sub-disciplinas dedicadas ao tema, como as economias do trabalho, da educacao, dos recursos humanos, etc. Em cada uma destas areas, centenas de investigadores por todo o mundo procuram responder a questoes tao variadas como: Qual e' o papel dos recursos escolares nos resultados dos alunos? Como e' que a legislacao laboral influencia o desemprego e a produtividade? Qual o papel da educacao em melhorar e empregabilidade e os salarios das pessoas?

Devia ser facil perceber que a contribuicao potencial da economia neste tipo de assuntos e' enorme. Os dois temas principais da economia sao, afinal, a "alocacao de recursos" e os incentivos. E que recurso e' mais importante para o bem-estar e o desenvolvimento de um pais que as suas pessoas? Conhecer, com rigor, sistematicamente, como funciona e como se poderia melhorar o sistema economico que envolve as pessoas e afecta as suas decisoes e' algo que pode ter um efeito enorme na qualidade de vida do pais.

No entanto, parece haver uma certa aversao em Portugal a misturar ciencia economica com os assuntos relacionados com as pessoas. Muitos parecem recusar a "intromissao" de uma ciencia que tem (correctamente) reputacao de rigorosa, "matematica", desapaixonada, em areas tao "humanas" como a educacao ou o trabalho. Trata-se de uma atitude - facilmente detectavel entre os que usam e abusam da expressao "economicismo" - que explica uma grande parte da estagnacao do pais: ao se recusar o que se pode aprender da ciencia economica - que tem sobretudo a ver a melhor aplicacao de recursos escassos-, o pais como um todo inevitavelmente empobrece - enquanto alguns interesses particulares saem beneficiados.

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