30.9.07

 
Agencia independente de acompanhamento de exames nacionais no Reino Unido

O Ministro da Educacao britanico anunciou esta semana a criacao de uma agencia para acompanhar os niveis de exigencia dos exames dos ensinos basico e secundario. E' uma resposta 'a preocupacao crescente de "dumbing down" no sistema educativo britanico, contrariado segundo alguns indicadores mas sugerido pelas crescentes percentagens de notas elevadas, nomeadamente nos "A-levels", os exames de acesso ao ensino superior. A iniciativa foi apoiado pelos outros dois principais partidos, alem dos trabalhistas. (Entretanto, o proprio Primeiro-Ministro britanico defendeu esta semana a elevacao do nivel das escolas no pais de "acima da media" para "classe mundial".)

Ideias interessantes para serem consideradas em Portugal, onde comparar notas de ano para ano e' um exercicio dificil de fazer. Claro que ha sempre a alternativa de olhar para a distribuicao total de notas e calcular percentis para averiguar como se posicionam umas escolas em relacao 'as outras - so que isso nao esclarece sobre a evolucao do que os alunos efectivamente aprendem ao longo do tempo. Essa evolucao e' obviamente a evidencia fundamental para avaliar o trabalho dos responsaveis pelo sistema educativo - e aparentemente continuara a ser impossivel conhecer esta informacao nos proximos anos...

28.9.07

 
Excerto de entrevista de Ricardo Reis (Princeton) ao Diario Economico

A legislação laboral portuguesa é assim tão diferente da norte-americana? Aquilo que vemos nos filmes, do tipo ‘estás despedido, arruma o caixote’ é real? O ministro das Finanças dizia que não tinha uma visão ‘hollywodesca’ do despedimento…
Não, não corresponde à realidade. Podem ser despedidas assim pagando uma indemnização, não muito, cerca de dois meses. A não ser que o contrato de trabalho tenha alguma cláusula rescisão. Acontece muito pouco.

Em Portugal devia ser assim [como nos EUA]?
Estamos a falar de extremos. Os Estados Unidos têm um mercado extremamente flexível e Portugal tem um mercado extremamente rígido. Concordo com as declarações do ministro das Finanças na entrevista [ao Diário Económico, dia 1 de Agosto]. Mas é muito fácil deitar abaixo uma reforma da legislação laboral apontando para o extremo. Entre um extremo e outro há muito caminho a percorrer, muitos estádios intermédios. Em Portugal pode-se liberalizar muito o mercado laboral sem chegar ao extremo ‘hollywoodesco’. Mas muitas das resistências à reforma do mercado laboral são justificáveis.

Justificáveis porquê?
Têm toda a razão os sindicatos e os socialistas quando dizem que uma flexibilização do mercado laboral vai levar a que o patrão possa explorar o trabalhador. Porque é preciso também uma flexibilização do mercado dos produtos. Se a PT tem posição significativa no mercado de telecomunicações, quando se liberaliza o mercado de trabalho como os técnicos da área só podem trabalhar ali, de facto a empresa pode maltratá-los. O receio das pessoas não é irracional. Na prática, quando se queixam, estão a reflectir o facto de o mercado dos produtos não estar liberalizado. E caso se liberalize muito o mercado de trabalho e não o dos produtos vai cair-se numa situação em que uma série de trabalhadores podem ser explorados. Porque o mecanismo que me diz que o trabalhador não é explorado, que é a possibilidade de ir trabalhar para outra empresa, não está operacional. A liberalização do mercado de trabalho tem de se fazer com mais concorrência no mercado dos produtos. Neste momento alguns estão liberalizados, como o mercado dos media. Nestes sectores as pessoas apoiam a liberalização, podem mudar de emprego. Mas quando olhamos para muitos sectores de serviços em Portugal, onde há empresas muito protegidas, percebo o receio. A liberalização do mercado de trabalho pode ser demasiado apressada se não for acompanhada pela liberalização efectiva do mercado dos produtos.

É preciso mais concorrência no mercado em geral?
Exactamente. Na União Europeia, a maior parte dos bens foi liberalizada, mas o mercado de serviços continua a ser altamente balcanizado por influência de governos que querem campeões nacionais. Seja no cimento, na energia ou nas telecomunicações. Compreendo que os trabalhadores desses sectores perguntem: ‘porque liberalizar o mercado de trabalho se não existe no o mesmo nos produtos, nesse caso ficaremos reféns’. Mas os economistas e algumas pessoas são também responsáveis porque defendem a liberalização do mercado de trabalho e não são tão expressivos a defender a concorrência nos mercados dos produtos e serviços.

E porque não são tão expressivos a defender a liberalização dos outros mercados?
Não sei. O que defendo é a liberalização do mercado de trabalho mas com mais concorrência no mercado de bens e serviços. E acompanhado com uma rede social.

Com a sua visão do exterior, vê os portugueses deprimidos?
Não vejo os portugueses com a esperança que encontro nos americanos. Parte disso tem a ver com a rigidez do mercado e trabalho e a forma como os jovens são tratados. Eu e os meus colegas [professores] vemos que um jovem quer nos Estados Unidos quer em Inglaterra está cheio de esperança, vai ganhar o mundo, está mais actualizado que as pessoas mais velhas… Pode chegar depois aos 35 anos e tornar-se um cínico. Mas está a procurar uma casa, a viver com o namorado ou a namorada, a arranjar um emprego… E arranja trabalho e pode não gostar e vai para outro… Chego a Portugal e vejo as pessoas aos 25 e 26 anos altamente deprimidas, acabaram os cursos, estão há dois anos à procura de emprego, moram com os pais, não têm dinheiro sequer para beber um café, têm de pedir a mesada aos pais…

É razão para se estar deprimido.
Exactamente. Não conseguem arranjar uma casa porque não há mercado de arrendamento, não conseguem arranjar emprego porque está tudo fechado. E a responsabilidade disso é da rigidez dos mercados de trabalho e de produtos. A rigidez nos mercados de trabalho surge exactamente para proteger quem já tem emprego à custa dos mais jovens. Para além dos efeitos económicos, o grande custo da rigidez laboral, é criar uma geração de pessoas cínicas e deprimidas, os jovens que ficam em casa dos pais e não conseguem arranjar emprego e trabalham com recibos verdes. E este custo, a mudança de mentalidade e a depressão, não está em nenhum modelo económico. É a única coisa que me preocupa

20.9.07

 
Olivier Blanchard sobre a reforma do mercado de trabalho frances

http://www.voxeu.org/index.php?q=node/561

(versao aprofundada: http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm?abstract_id=464282)

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