16.5.11
Da inumeracia economica ao sensacionalismo?
Mais um infeliz artigo do Publico sobre mercado de trabalho, a ilustrar a pouca numeracia economica na comunicacao social portuguesa, mesmo entre os supostos "jornais de referencia".
O artigo, publicado ontem, compara o numero total de desempregados em 2010 e a previsao para 2013 e parece assumir que a diferenca corresponde aos novos desempregados ao longo desse periodo. Por outras palavras, o fluxo e' tido como igual 'a diferenca de stocks. No entanto, o valor real de novos desempregados sera provavelmente muito superior, uma vez que havera muitas pessoas que entrarao e tambem sairao do desemprego ao longo desse periodo de cerca de dois anos.
O artigo - escolhido como tema de capa - tambem erra ao sugerir que grande parte destes novos desempregados serao confrontados com as novas regras dos subsidios de desemprego indicadas pelo memorando. No entanto, o novo limite maximo de 18 meses de duracao so tera efeitos praticos junto de uma relativamente pequena percentagem de desempregados. Isto porque nao so trabalhadores de alguma idade e com varios anos de desconto tem acesso a subsidios mais prolongados actualmente mas tambem porque esta reducao estara' sujeita 'a formula da nao reducao de "direitos adquiridos" ("accrued-to-date rights").
Tambem o limite maximo de cerca de 1000 euros de subsidio nao tera grandes efeitos praticos, uma vez que ja vigora a regra de o subsidio nao poder exceder 75% do montante liquido do salario de referencia (estando o salario medio bruto actualmente tambem em cerca de 1000 euros).
Em conclusao, um artigo que nao so' informa pouco - e mal -, como tambem passa uma mensagem distorcida (sensacionalista?). Uma outra abordagem que seria muito mais produtiva seria comparar os programas dos partidos na area do mercado de trabalho (incluindo tambem a proteccao do emprego e a negociacao salarial) - e averiguar em que medida estes sao consistentes, omissos ou contraditorios com o memorando que tres deles subscreveram.