6.2.07

 
A economia dos centros de decisao nacionais

E' uma ma ideia procurar evitar que determinadas empresas nacionais sejam adquiridas por investidores estrangeiros. Por varias razoes. A principal talvez seja que ter um governo a escolher que empresas podem ou nao podem ser adquiridas envolve niveis de arbitrariedade e discricionaridade tais que comprometem necessariamente a saude da economia de um pais.

A experiencia de varias decadas em varios paises sugere que deve ser o mercado a decidir a propriedade das empresas, atraves dos mecanismos normais da procura e da oferta, enquanto compete ao Estado regular as empresas, sobretudo aquelas que operam em mercados nao concorrenciais (como o sector bancario). Confundir funcoes e' uma receita para ineficiencia e, logo, menos prosperidade.

Alem disso, grande parte do investimento directo estrangeiro no mundo desenvolvido - incluindo em Portugal - assume a forma de fusoes ou aquisicoes (em desfavor do "greenfield investment", com a constituicao de novas empresas de raiz). Se o Estado realmente considera que o investimento estrangeiro e' algo que beneficia a economia portuguesa - a motivacao invocada para a concessao de apoios vultuosos pagos pelos contribuintes e pela UE, embora com apoio algo ambiguo na literatura da area -, entao criar obstaculos a "determinadas" empresas estrangeiras e' no minimo enviar sinais confusos para o exterior.

Ao nivel do mundo do trabalho, a evidencia disponivel sugere que as empresas estrangeiras nao pagam salarios inferiores que as empresas nacionais. Em particular, um trabalho que desenvolvi com dados portugueses mostra que nao ha evidencia de reducao de salarios quando empresas portuguesas sao adquiridas por empresas estrangeiras. Por outro lado, estudando o fluxo de trabalhadores entre empresas estrangeiras e empresas nacionais, os trabalhadores que passam das segundas para as primeiras tendem a aumentar mais os seus salarios que aqueles que fazem o percurso inverso.

Finalmente, ao nivel macroeconomico, o facto de Portugal sistematicamente consumir mais do que produz implica uma transferencia de activos para o estrangeiro, o que, por sua vez, inevitavelmente acarreta a transferencia do controlo de empresas portuguesas para centros de decisao internacionais.

Resolver ou, pelo menos, minorar os problemas de sectores publicos como a justica, a educacao ou a saude ja sao tarefas herculeas para qualquer governo em Portugal. Tentar ainda alem disso prosseguir uma politica de "defesa" dos centros de decisao nacionais e' nao so tentar adiar o inevitavel como tambem introduzir distorcoes que destroem riqueza para o pais. Sem demagogia, a verdadeira defesa dos centros de decisao nacionais que esta potencialmente ao alcance dos poderes publicos e' assegurar que todos os jovens saem das escolas com capacidades de tomar boas decisoes, nas suas vidas e nas suas carreiras - algo que ainda nao se vislumbra...

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