15.10.06
Abandono Escolar
Decorreu este fim-de-semana um "Congresso Nacional de Combate ao Insucesso e Abandono Escolar", em Resende:
http://www.sucessoescolar.blogspot.com
Uma iniciativa interessante, sobretudo no contexto portugues de elevadissimos indices de saida precoce do sistema de educacao e correspondentes baixissimos niveis de escolaridade da populacao. No entanto, embora o problema persista ha decadas, continua-se sem se conseguir diagnosticas as suas causas, para nao falar da formulacao de politicas apropriadas de combate 'a exclusao.
A pergunta que e' urgente responder com clareza e', simplesmente, "Porque e' que os jovens portugueses abandonam a escola tao cedo?" Um economista diria que e' porque esses jovens consideram que os beneficios de sair (ganhar um salario, nao estar a suportar a "desutilidade" de estar num ambiente em que nao se "sentem bem"?) mais que compensam os custos de nao continuar a estudar (ganhar um salario mais elevado no futuro).
Ou talvez haja "restricoes de liquidez": embora possam querer continuar a estudar, o rendimento familiar nao e' suficiente para manter o jovem na escola; ou ainda "imperfeicoes no mercado de credito": mesmo vindo a auferir um salario mais elevado no futuro, o jovem nao consegue contrair um emprestimo para financiar os seus estudos no presente.
Nao me parece que as imperfeicoes de credito ou as restricoes de liquidez sejam muito significativas no caso portugues. Ha varios apoios concedidos pelo Estado, sobretudo durante a escolaridade obrigatoria, embora seja sempre possivel fazer mais e melhor.
Por outro lado, algo que ja esta estabelecido com bastante evidencia empirica e' que os diferenciais de salarios entre trabalhadores com niveis diferentes de escolaridade sao bastante elevados em Portugal. Em grosso modo, cada ano adicional de escolaridade tende a traduzir-se em salarios cerca de 10% mais elevados.
Claro que nao se pode necessariamente concluir deste resultado que a educacao tem um impacto causal nos salarios, uma vez que podem haver outras diferencas entre as pessoas com mais e menos educacao para alem das proprias diferencas do nivel de educacao. Por exemplo, quem estuda menos pode-o fazer por descontar o futuro a uma taxa mais elevada e essa diferenca de preferencias pode acarretar varias outras implicacoes em relacao ao comportamento de cada tipo de pessoa.
Outro problema ainda esta na informacao de que dispoem os jovens que decidem abandonar precocemente a escola - por muitos estudos empiricos sobre a diferenca de salarios entre os mais e menos educacados que haja, se esses jovens os desconhecem (ou pior, se sao influenciados pelas noticias sobre o aumento do desemprego entre os licenciados), entao obviamente esses jovens podem perder oportunidades que de outro modo escolheriam.
Finalmente, o aspecto da "desutilidade" da frequencia da escola talvez tambem nao seja de menosprezar: se um estudante tem maus resultados, se nao acha interessante o que esta a aprender , se nao acham que as essas disciplinas lhes irao abrir portas no futuro, entao o abandono sera a escolha obvia.
Enunciando-se algumas pistas "teoricas" para compreender o abandono escolar, falta agora analisar empiricamente o problema. Recolher dados, trata-los rigorosamente, e saber interpreta-los. So ai se podera verdadeiramente passar para a fase do combate ao abandono escolar: ate la, esses jovens correm o risco de continuar abandonados pelo sistema.
Decorreu este fim-de-semana um "Congresso Nacional de Combate ao Insucesso e Abandono Escolar", em Resende:
http://www.sucessoescolar.blogspot.com
Uma iniciativa interessante, sobretudo no contexto portugues de elevadissimos indices de saida precoce do sistema de educacao e correspondentes baixissimos niveis de escolaridade da populacao. No entanto, embora o problema persista ha decadas, continua-se sem se conseguir diagnosticas as suas causas, para nao falar da formulacao de politicas apropriadas de combate 'a exclusao.
A pergunta que e' urgente responder com clareza e', simplesmente, "Porque e' que os jovens portugueses abandonam a escola tao cedo?" Um economista diria que e' porque esses jovens consideram que os beneficios de sair (ganhar um salario, nao estar a suportar a "desutilidade" de estar num ambiente em que nao se "sentem bem"?) mais que compensam os custos de nao continuar a estudar (ganhar um salario mais elevado no futuro).
Ou talvez haja "restricoes de liquidez": embora possam querer continuar a estudar, o rendimento familiar nao e' suficiente para manter o jovem na escola; ou ainda "imperfeicoes no mercado de credito": mesmo vindo a auferir um salario mais elevado no futuro, o jovem nao consegue contrair um emprestimo para financiar os seus estudos no presente.
Nao me parece que as imperfeicoes de credito ou as restricoes de liquidez sejam muito significativas no caso portugues. Ha varios apoios concedidos pelo Estado, sobretudo durante a escolaridade obrigatoria, embora seja sempre possivel fazer mais e melhor.
Por outro lado, algo que ja esta estabelecido com bastante evidencia empirica e' que os diferenciais de salarios entre trabalhadores com niveis diferentes de escolaridade sao bastante elevados em Portugal. Em grosso modo, cada ano adicional de escolaridade tende a traduzir-se em salarios cerca de 10% mais elevados.
Claro que nao se pode necessariamente concluir deste resultado que a educacao tem um impacto causal nos salarios, uma vez que podem haver outras diferencas entre as pessoas com mais e menos educacao para alem das proprias diferencas do nivel de educacao. Por exemplo, quem estuda menos pode-o fazer por descontar o futuro a uma taxa mais elevada e essa diferenca de preferencias pode acarretar varias outras implicacoes em relacao ao comportamento de cada tipo de pessoa.
Outro problema ainda esta na informacao de que dispoem os jovens que decidem abandonar precocemente a escola - por muitos estudos empiricos sobre a diferenca de salarios entre os mais e menos educacados que haja, se esses jovens os desconhecem (ou pior, se sao influenciados pelas noticias sobre o aumento do desemprego entre os licenciados), entao obviamente esses jovens podem perder oportunidades que de outro modo escolheriam.
Finalmente, o aspecto da "desutilidade" da frequencia da escola talvez tambem nao seja de menosprezar: se um estudante tem maus resultados, se nao acha interessante o que esta a aprender , se nao acham que as essas disciplinas lhes irao abrir portas no futuro, entao o abandono sera a escolha obvia.
Enunciando-se algumas pistas "teoricas" para compreender o abandono escolar, falta agora analisar empiricamente o problema. Recolher dados, trata-los rigorosamente, e saber interpreta-los. So ai se podera verdadeiramente passar para a fase do combate ao abandono escolar: ate la, esses jovens correm o risco de continuar abandonados pelo sistema.