14.7.06

 
“Médias dos exames nacionais do 12º ano desceram em relação a 2005”, Público, 13 de Julho de 2006: http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1263990


Estarão as actuais reformas no sector da educação a ir na direcção “certa”, na direcção do combate aos baixos níveis de qualidade da aprendizagem dos jovens? Parece-me provável que várias das medidas tomadas desde Março de 2005 vão no sentido correcto: promover maior estabilidade do corpo docente nas escolas, assegurar aulas de substituição, encerrar escolas com poucos alunos, valorizar o “feedback” dos encarregados de educação na carreira dos professores, introduzir o ensino de inglês no primeiro ciclo do ensino básico, relançar o plano de combate ao insucesso na matemática, ...

Tratam-se de medidas que, pelo menos do ponto de vista da sua aparência, parecem fazer todo o sentido e, quanto a mim, mereceriam aplauso generalizado. (Claro que o inferno está nos detalhes...) Têm, em todo o caso, o grande mérito de quebrar com uma prática ministerial que valorizava questões “soft” (relacionadas com programas escolares ou tempos de aulas), em detrimento de aspectos estruturais, como os que estão agora a ser ajustados.

Há, no entanto, dois problemas sérios na abordagem seguida. O primeiro é, obviamente, o clima de crispação criado entre o Ministério e os professores. É óbvio que, entre cerca de 150.000 professores, há inevitavelmente muitas centenas de pessoas desmotivadas, desleixadas ou mesmo simplesmente incompetentes. Sobretudo quando o esquema de incentivos enfrentado pelos professores não promove a dedicação: ou o professor é consciencioso e/ou motivado pelo que faz ou o mais provavél é não ser mais do que um professor mediano ou medíocre.

E é neste contexto que a crispação – além de tudo completamente desnecessária – poderá anular e mesmo inverter quaisquer benefícios que resultem das medidas mencionadas no primeiro parágrafo. Perante as sugestões mais ou menos directas de que a preguiça e a incompetência não são raras entre a classe docente, receio que a desmotivação aumente, sobretudo entre os tais professores dedicados que muito fazem por “puxar” o sistema e assegurar que os níveis de aprendizagem não são piores do que já são. Com a agravante que, percebendo os alunos o clima de desprestígio em que os professores são envolvidos, as “turmas difíceis” passam a ser ainda mais difíceis de ensinar...

O segundo problema, de carácter mais básico, prende-se com a inexistência de métricas para o acompanhamento dos níveis de aprendizagem dos alunos. Algo poderia ser eventualmente feito nesse sentido com os resultados das provas do 12º e/ou 9º anos e das provas de aferição. Mas há várias questões que se prendem com problemas de selectividade (nos exames do 12º ano) e de incentivos (nos exames do 9º ano, a nota do teste só conta 30%, o que faz que um aluno de 3 possa ter 2 na prova e ainda passar de ano) que podem dificultar ou mesmo prejudicar decisivamente o rácio sínal/ruído desses testes. Em todo o caso, a notícia do título deste “post” (que, curiosamente, foi divulgada depois do debate sobre o estado da nação...) obviamente não é animadora.

Este problema, a não ser resolvido – e não se ouvem quaisquer vozes nem sequer a evidenciar a existência do mesmo –, fará com que a avaliação desta equipa ministerial não possa ser feita. Pior ainda, o país irá perder mais uma oportunidade de aprender o que funciona e o que não funciona no seu sistema educativo. Fazer erros qualquer pessoa faz – não aprender com eles (e correr o risco de reincidir, reincidir, reincidir) é que é mais sério...

Outro títulos:

“Seis em cada dez alunos do 9º ano tiveram negativa a Matemática”, Público, 12 de Julho de 2006: http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1263878&idCanal=58

“Negativas nos exames de Português do 9.º duplicaram”, Público, 13 de Julho de 2006: http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1263954&idCanal=58

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