1.7.06

 
E depois da GM?

Mais uma fábrica em Portugal em vias de deslocalizar-se, desta vez para um país de salários mais elevados (a General Motors, da Azambuja para Espanha). Indícios que os salários em Portugal não são suficientemente baixos para compensar os custos de periferia, sobretudo quando o centro geográfico da União Europeia se desloca inexoravelmente para Leste?

Por um lado, é importante ter presente que os custos destes fenómenos de “displacement” são consideráveis (a literatura na área parece chegar a um consenso de perdas salariais da ordem dos 20% para os trabalhadores afectados). Por outro lado, não se pode deixar de ter presente que a saída destas empresas oferece o incentivo desejável para a economia portuguesa avançar num processo de “upgrading” das suas actividades económicas. Nomeadamente abandonando actividades que envolvam recursos humanos de baixas qualificações – e localizadas em sectores em que haverá excesso de capacidade – enquanto crescem os sectores de maior valor acerscentado, sobretudo nas áreas dos serviços.

O problema, claro está, é que a expansão destes sectores intensivos em trabalho qualificado (finanças, medicina, informação, media/entretenimento, telecomunicações, investigação, serviços às empresas, etc) se está a processar muito lentamente. Várias explicações são sobejamente conhecidas. Três explicações que me parecem mais importantes: as escolas que não ensinam (ou alunos que não aprendem), a legislação laboral que dificulta ajustamentos nas forças de trabalho (a não ser pelas vias mais radicais dos despedimentos colectivos e, mesmo assim, com vários entraves), e o sistema judicial que dificulta as relações entre empresas.

Com recursos humanos que continuam a ter níveis de qualificação baixos e um sistema económico que dificulta a mobilidade dos recursos, não se vislumbram grandes perspectivas que Portugal se consiga posicionar de maneira a beneficiar da globalização. Num mundo em que a China produz os bens de consumo, a Índia domina os serviços (pelo menos os de menor valor acrescentado) e o Brasil dá cartas na agricultura, que resta a um pais como Portugal? Talvez ser a Florida da Europa, especializado no turismo e nos lares de terceira idade (embora com médicos espanhóis?!)

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