14.10.19

 

"Envolver as empresas na educação e formação"

Texto publicado no Observador em fevereiro:

No meio da polémica sobre as referências à corrupção, as recomendações da ‘Economic Survey’ da OCDE publicada esta semana infelizmente receberam pouca atenção no debate público. Entre várias outras propostas reformistas de grande interesse, na área específica da educação a OCDE propõe a Portugal:
–expandir programas de formação profissional como os cursos de aprendizagem e os cursos de educação e formação de adultos, para que possam beneficiar um número maior da população menos qualificada; e
–consolidar os dois sistemas de educação vocacional num sistema único com uma componente forte de aprendizagem em posto de trabalho e desenvolver uma avaliação detalhada de todos os programas de formação profissional.
Ambas as medidas são muito acertadas e oportunas. Desde já, agora que a queda do desemprego parece chegar ao seu fim, é ainda mais importante investir nas qualificações. Enquanto que nos últimos anos o crescimento económico resultou em grande medida do aumento dos níveis de emprego, a partir de agora, este crescimento – a existir – deverá resultar sobretudo do aumento da produtividade. Por outro lado, as megatendências da inteligência artificial, da automação, e do envelhecimento (sobretudo este último no caso português) redobram a necessidade de ajustar o nosso sistema de educação e formação. E aqui importa sublinhar a relevância que a OCDE atribui, direta ou indiretamente, ao envolvimento das empresas neste sistema.
Exemplos disto são as referências aos cursos de aprendizagem – em que os jovens dividem a sua semana entre a escola e a empresa, aprendendo e praticando, praticando e aprendendo – ou à formação em posto de trabalho – em que os desempregados (ou não) adquirem novas qualificações ao mesmo tempo que identificam o seu potencial junto de potenciais empregadores. Num contexto tão imprevisível como aquele que se afigura para os próximos anos – para não falar das próximas décadas –, o contributo das empresas para a definição e para o desenvolvimento das áreas de educação e formação prioritárias é cada vez mais imprescindível e não pode continuar a ser desperdiçado.
Isto é sobretudo o caso quando estes contributos forem proporcionados também através de investimentos feitos pelas próprias empresas (indicando “skin in the game”), com a disponibilização de colaboradores próprios como tutores, com o desenvolvimento de novos conteúdos formativos, ou com o copagamento das despesas dos cursos e das bolsas de formação. Daqui resultará um sistema mais equilibrado entre procura e oferta, não dominado por esta última, mais ágil a responder positivamente às inevitáveis mudanças dos próximos anos, e com um contributo mais forte na promoção do aumento da produtividade e da melhoria das condições de trabalho.
Uma última palavra para outra ideia importante das recomendações da OCDE: a avaliação detalhada de todos os programas nesta área. Os desenvolvimentos dos últimos anos ao nível do “big data” tornam cada vez mais acessível a análise dos impactos de cada curso. Esta informação é imprescindível, não só para os jovens interessados em conhecer as perspetivas profissionais de diferentes cursos e escolas – e relembremos essa área tão esquecida do sistema que é a orientação escolar e profissional –, como também para os decisores públicos. Estes últimos continuam a tomar todos os anos decisões envolvendo muitos milhares de milhões de euros com uma base de informação extremamente limitada. Também aqui é possível fazer (muito) melhor.

13.10.19

 

Que impacto tem as portarias de extensao no mercado de trabalho?

Nova versao do meu paper sobre o tema, '30,000 minimum wages: The economic effects of collective bargaining extensions':

Resumo: Many governments extend the coverage of collective agreements to workers and employers that were not involved in their bargaining. These extensions may address coordination issues but may also distort competition by imposing sector-specific minimum wages and other work conditions that are not suitable for some firms and workers. In this paper, we analyse the impact of such extensions along several economic margins. Drawing on worker- and firm-level monthly data for Portugal, a country where extensions have been widespread, and the scattered timing of the extensions, we find that, while continuing workers experience wage increases following an extension, formal employment and wage bills in the relevant sectors fall, on average, by 2%. These results increase by about 25% across small firms and are driven by reduced hirings. In contrast, the employment and wage bills of independent contractors, who are not subject to labour law or collective bargaining, increases by over 1% following an extension.


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